A Santa Cruz nos garante a vitória!
Nos fios da espada que meneia
A vida própria, e a morte alheia.
Mas isto, por quê? Porque as cruzes estão perto dos punhos.
Tenham logo por certo e certíssimo todos os que assim armados, ou entrarem nas batalhas, ou assaltarem os muros, ou assediarem as cidades, que não haverá nem soldados tão valentes, nem cabos tão experimentados, nem fortalezas tão inexpugnáveis, nem inimigos, enfim, tão obstinados, que se lhes, não rendam.
A praça mais forte e mais bem presidiada que nunca houve nem haverá foi o paraíso terreal, depois de lançado dele Adão, porque estava guarnecida de querubins, soldados imortais, todos com armas de fogo, que foram as primeiras que houve no mundo: e haverá quem se atreva a investir, e possa entrar por força esta praça? Sim. E quem? Um homem. E com que exércitos? Só. E com que armas? Despido. Pois um homem, só, e despido, há de entrar e render o paraíso defendido de querubins com armas de fogo? Sim, outra vez, se a Cruz lhe der o valor, e desde a Cruz fizer a investida.
Divinamente S. Crisóstomo, falando do Bom Ladrão: Fecit latro de Cruce impetum, et intravit paradisum romphaea flammea circum datum: Acometeu o ladrão desde a sua cruz, e, fazendo dela escada, assaltou as muralhas do paraíso, e por mais que estavam defendidas de querubins e espadas de fogo, os querubins, as espadas e o fogo , nada lhe pode resistir, e foi o primeiro que vitorioso e triunfante restaurou a famosíssima e felicíssima praça, que Adão com tanta fraqueza perdera.
Não sei, nem posso dizer mais. E se uma Cruz nas costas dá tanto valor e fortaleza, onde tantos trazem a cruz nos peitos, e todos a podem levar no coração, quem haverá na empresa presente que possa desesperar da vitória?
Assim como antigamente, mostrando Deus a Constantino o sinal da Cruz no céu, lhe disse: In hoc signo vinces (Neste sinal vencerás) - o mesmo está dizendo ao invicto general das nossas armas.
Este sinal do céu seja o farol que sigam as armadas no mar, e este o estandarte real que levem diante dos olhos os exércitos na terra, para que, vencedores em um e outro elemento, os vivos levantem os troféus neste mundo, e os mortos - que não há vencer sem morrer - logrem os triunfos da constância no outro, exaltados todos pela virtude da Santa Cruz, como o mesmo Redentor foi exaltado nela: Sicut Moyses exaltavit serpentem in deserto , ita exaltari oportet Filium hominis ( Como Moisés no deserto levantou a serpente, assim importa que seja levantado o Filho do homem, Jo 3,14)
(Padre Antônio Vieira, SERMÃO DA SANTA CRUZ, 1638, Na festa dos Soldados, estando na Bahia a Armada Real)
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